terça-feira, dezembro 29, 2015

Acordar de Mau Humor é Tão Ruim :-(


É tão ruim quando a gente acorda de mal humor, meu Deus do céu o que é isso!
Eu não costumo acordar de mal humor, a primeira coisa que costumo pensar automaticamente quando acordo é: "vai dar tudo certo!" eu me espreguiço com gosto eeee pronto, vamos dar inicio aos trabalhos kkkkk Quando falo que vai dar tudo certo, falo sobre o dia inteiro, que tudo vai dar certo hoje, falo que as coisas que farei serão boas, divertidas, enfim que dará tudo ocorrerá bem!

Hoje acordei com o mesmo pensamento, mas sei lá, acho que não dormi direito ou foi minha tchutchuca que me acordou muito cedo e ficou berrando "Mamãããe!" que já foi iniciando meu dia ao avesso, talvez tenha sido isso kkkkk Nããão, isso ela já faz direto kkkk A questão é que assim que levantei com os berros da queridinha e dar um bom dia beijado nela, foi tão difícil dar um sorriso.

Fiquei de cara amarrada por um bom tempo! E o dia estava maravilhoso, frio, cinza e aconchegante! ^^ Escutei "meus" mantras - amo mantras-, tentei fazer algumas posições de Ioga que já venho tentando há um tempo kkkk Mesmo assim só consegui me sentir 100% eu quase no final da noite. Aí pronto, qualquer música estava dançando e rindo tranquila. Deu tudo certo :-D

Eu não sei como as pessoas que amanhecem de mal humor passam o dia! Elas devem se recuperar conforme o passar do dia, eu espero kkkkk Algumas pessoas já me disseram que amanhecem de mal humor, que não gostam de conversar com ninguém, que preferem se isolar e acordar de verdade sei lá... Mas no final do dia elas já estão humoradas e tranquilas, pra quem está acostumado é de boa, mas pra mim que estou acostumado com o contrário de tudo isso, foi uma tortura kkkkk

Eu acordo reflexiva, não me isolo, vou dando os meus bons dias pra tudo, sol, chuva, dia, tempo, Deus, anjos, filha, marido etc.. kkkkk mesmo sem falar eu estou agradecendo e dizendo BOM DIA! QUE BOM ESTAR VIVA! É tão bom poder levantar, saber que sou uma pessoa saudável, que consigo tomar meu café da manhã, que tenho um café pra tomar, que dormir em paz e um novo dia iniciou para mim :-D

domingo, dezembro 27, 2015

Um Bairro Abandonado em Luziânia



Aqui no bairro onde eu moro (Luziânia- GO) tem vários locais abandonados pela prefeitura. As fotos abaixo mostram um local onde poderia se construir um área para fazer exercícios, um campo de futebol decente porque esse matagal capinado de um lado e largado do outro não é legal. A prefeitura poderia ter construído um delegacia, creche ou qualquer outra coisa de utilidade pública, mas nunca fizeram nada, só dão desculpas.

Os meninos até brincam aí a tarde, mas a noite é uma escuridão total, muitas vezes já tive que passar por aí para chegar em casa e muitas dessas vezes o mato estava praticamente do meu tamanho e eu tenho 1, 67!

Gostaria muito de um dia ver as promessas dos vereadores, prefeitos, senadores e etc. cumpridas! Moro aqui a 18/19 anos e as promessas são as mesmas e ninguém olha para cá! Dizem que o bairro não está no mapa, que as casas não possuem escrituras e blá, blá, blá... isso 19 anos, mas para pedir votos todo ano aparece um com a promessa de resolver tudo isso e de transformar o local onde moro em um bairro de verdade, com infraestrutura digna.

As eleições estão chegando novamente, claro para manter os votos algumas ruas serão asfaltadas e mais promessas serão feitas. Digo que por mim não haverá reeleição, nenhum político que está hoje na câmara, no senado, na prefeitura ou mesmo na presidência receberá meu voto. Quero acreditar que um dia essa situação será resolvida.














Atualizando rs o tamanho do mato aqui perto de casa passa da minha altura!!!

sábado, dezembro 26, 2015

Crys Lira - Prêmiação Sesc do Teatro Candango - Miguilim Inacabado 2015



É galera! O nosso espetáculo Miguilim Inacabado participou do Prêmio Sesc do Teatro Candango. Foram premiados os melhores nas nove categorias: espetáculo adulto, direção, atriz, ator, sonoplastia, cenografia, dramaturgia, iluminação, espetáculo infantil e figurino. A companhia da qual participo, a Semente Cia de Teatro, foi indicada a seis das oito categorias para adultos :-D, ficamos muito felizes pelas indicações.
Fomos premiados na categoria de melhor figurino e ficamos entre os três melhores espetáculos do Sesc, convidados à participar do palco giratório e apresentar nos Sescs do DF. Entre as indicações, recebemos a alegria da indicação de Matheus Trindade, o nosso querido Miguilim, para o prêmio de melhor ator :-D.  Enfim, representamos bem a arte teatral, fizemos no trabalho e mostramos nossa competência.
Eu aproveitei a festa ao máximo! Foi incrível estar ao lado de tantos apaixonados pela arte e principalmente ao lado da minha família, a família Semente.




quinta-feira, dezembro 10, 2015

Carta para Tereza - III



Bom dia!

Olá Tereza que bom que respondeu minha carta. Deve ter sido difícil pra você ver que o seu relacionamento não estava te fazendo bem. Eu sei que você leu minha carta depois que descobriu tudo, mas agradeço por você ter me entendido, ter visto que eu só queria a sua felicidade. Não se preocupe eu nunca iria lhe dizer aquela velha frase: "Eu lhe avisei!", este não é meu jeito, acho que você não se lembrava mais do meu jeito pelo distanciamento que criamos.

Olha, não se preocupe... eu sei que uma separação dói, eu sei que lágrimas são inevitáveis, mas eu sei que você é forte suficiente para enfrentar isso. Você precisa se recuperar, se amar, se curar e depois poderá dar a oportunidade para alguém fantástico te conhecer. Quando a gente transmite bons sentimentos, alegria e se sente feliz com nós mesmos podemos atrair muito mais disso para nós.

Por falar em sentimentos ruins, Tereza, pare de guardar rancor, isso não é bom pra você, faz muito, mas muito mal a você! Mais do que qualquer outra pessoa. O outro de quem você guarda rancor não sente nada e em nada é atingido. Você é a única prejudicada, não percebe o quanto isso é ruim? E deixe de orgulho bobo, saiba conversar, saiba escutar, nem sempre você está certa e se você estiver certa mas o outro não aceitar, respeite a opinião alheia. Isso fará você se sentir melhor...

Eu queria te dizer que você é linda, seu corpo é lindo e você não precisa ter vergonha. Não tenha vergonha de amar. Não tenha vergonha de amar outro ser, outro corpo, outra alma. Quando amamos e nos entregamos de verdade não há por que ter vergonha ou se reprimir, se há amor e ele é recíproco não há o que ter vergonha, se a confiança é recíproca tudo fica conectado. É uma troca com o outro, uma troca de energias e sentimentos. Tudo isso você precisa entender e se dispor a viver...

Apesar de você não ter me dito nada sobre o final do seu relacionamento com detalhes do que aconteceu, do que você descobriu e sua família não chegar a comentar sobre este assunto comigo, eu vi em seus olhos, em sua tristeza, como deve ter sido doído... Vi isso naquele dia em que nos encontramos sem querer e paramos para tomar um café, provavelmente você ainda não tinha lido minha carta...  

Você talvez não saiba, mas te conheço bem, sei que insisto em te chamar de amiga apesar de sentir que não confia tanto em mim. Você não gosta de ouvir, talvez por isso não considere ninguém com amigo verdadeiro, porque sempre que alguém lhe diz verdades você não aceita. Por isso não confia em mim. 

Eu sei você nunca me disse isso, mas eu sinto... Muitas coisas não são ditas, não são feitas, mas nem por isso deixam de transmitir o que são. Silêncios dizem muito. Eu desejo a você amor, felicidade, alegria! Alegria verdadeira, aquela que não é só do sorriso pra fora, mas sim aquela que vem da alma. Aproveite essa oportunidade de vida, é a sua única, quero te ver feliz, escolha ser feliz por favor... 

Não sei se vai me responder, mas fique bem...


domingo, dezembro 06, 2015

Crys Lira - Miguilim Inacabado - Semente Cia de Teatro


Costumo dizer que cheguei aos 45m do segundo tempo na construção desse maravilhoso espetáculo. Cheguei assim meio que sem querer, pra rever os amigos, pra voltar a fazer parte do grupo que estava no meu coração. 

Tinha passado dois anos afastada. Nesse período, terminei meu curso de pedagogia e tive minha filha Helena, meu grande amor. Esse tempo afastada encheu meu coração de saudade do teatro, do ser teatro, do viver teatro...

Quando cheguei no processo, a família Semente já estava há quase um ano de preparação. Recebi como presente a personagem Nha Nina, mãe de Miguilim. Nina mora no Mutum, lugar que não gosta e sonha em sair de lá, sonha em viver outra vida. Ao me colocar em seu lugar, vi como é dolorido você querer realizar seu sonho, sair, ver coisas diferentes e não poder. Para mim ela é uma personagem complexa. Ao mesmo tempo que ela quer descobrir novos mundos, ela não se move do lugar onde está. A dramaturgia do espetáculo é criada a partir da obra de Guimarães Rosa -  Campos Gerais: Manuelzão e Miguilim.

Nina sofre com a morte de Dito um de seus filhos seis filhos e eu como mãe sinto por ela a dor de perder um filho. Toda mãe ao se imaginar perdendo o fruto do seu ventre com certeza vai sofrer e vai entender como é esse sentimento tão dolorido.
Descoberta da doença de Dito           

Morte de Dito
Nina se sente infeliz em seu casamento. Ao se casar imaginava que sua vida seria diferente, cheia de realizações e totalmente diferente do que ela estava vivendo. Em seu casamento o que estava recebendo era: brutalidade, falta de carinho, desamor e sofrimento. Seu sofrimento de mulher "mal amada" pelo marido, mistura-se a uma melancolia, a uma nostalgia de algo que não viveu e que por fim não sabe se irá viver.

Envolvimento com Terez irmão de Bero
Essa falta de amor, de alegria ou de algo que lhe desse um motivo pra viver, a faz procurar emoção em relacionamentos extraconjugais, traindo o marido com seu próprio irmão e depois com Luisaltino empregado de seu marido. Nina pode ser tida como um reflexo das ações da mãe que era prostituta. Por fim, depois de seu filho Miguilim adoecer e ela sofrer com a possível morte de mais um filho, ao mesmo tempo que seu filho se cura seu marido Bero se suicida. Mais um sofrimento. Depois de todo o sofrimento seu filho Miguilim vai embora com o Médico José Lourenço, Nina se casa com Terez irmão de Bero e sonha mais uma vez em ser feliz. Porém não sai do Mutum...
Doença de Miguilim

Morte do Bero
Miguilim e o Médico
Nina fica com Terez e Vó Izidra vai embora

sexta-feira, dezembro 04, 2015

Carta para Tereza - II



Oi Tereza,

Como você está? já faz um tempo que não nos vemos. Lembro que tinha tentado várias vezes lhe falar sobre aquele assunto... mas não consegui, até que um dia sentei ao seu lado e lhe disse mais uma vez sobre o seu relacionamento. Lembra que fui passar uns dias em sua casa e nos dias que estava lá você passou a sair de casa e visitar outros parentes junto comigo. Eu sei que às vezes minha presença te incomoda, pois quero conversar sobre certas coisas e você não gosta e muitas vezes eu não entendo o tom de sua voz e fico com raiva, então encerramos por aí. Pelo menos o tempo que passei com você, serviu para você sair um pouco. Graças a Deus você conseguiu se levantar e reagir, saiba que estávamos empenhados nisso, digo estávamos pois falo de nós que te queremos bem.

Voltando aquele assunto, eu te contei algo sobre o seu relacionamento que já estava tentando falar há tempos. Claro, depois que eu falei, você achou que o que viram ou disseram ver, poderia não ser verdade. Você queria provas, fotos, datas, detalhes e eu tinha somente palavras, sinto, não sou uma detetive. Senti muito por ter te contato tudo o que me disseram, assim sem provas. A única coisa que queria era te abrir os olhos. 

Depois de conversar com você mais algumas vezes vi que o problema realmente estava em você. Sabe, ele podia dizer que não queria te ver conversando com seus amigos homens porque tinha certeza que eles te queriam ou mulheres porque na cabeça dele, te levariam pra outros caras ou trariam recados ou sei lá, e você acabou aceitando ou mediando. Ele poderia mentir sobre um monte de coisas, sobre praticamente tudo... mas o problema estava em você saber, às vezes descobrir e simplesmente rir. Nunca te passou pela cabeça que ele poderia não estar mentindo somente para os amigos dele, familiares ou pra você em algumas coisas, mas poderia estar mentindo em muitas outras coisas? 

Ele nunca te proibiu de sair, de se divertir, mas sempre que você saía até pra ir visitar sua amiga sem dizer a ele, o que ele fazia sempre era ir atrás de você para saber o que você estava fazendo. E nessas horas era grosso com você e tinha ataques de ciúmes. E você aceitava o fato dele ter a liberdade de sair para todos os lugares e falar com quem quisesse, talvez só não com algumas pessoas que você proibira por "descontar" o que ele fazia. Tudo isso você me contava. Será que isso justifica o porquê você não gosta mais de sair?. E para passear os dois quantas vezes vocês brigavam quando saiam para se divertir? Muitas. E quantas vezes você achava entediante sair para os mesmos lugares e o fato dele não saber conversar com você? Muitas. Depois dessas atitudes você perdeu a vontade de sair para outros lugares. Ele teve ou não teve certa influência nisso? Sozinha ele ia atrás e não tinha liberdade, acompanhada era um terror.

Sabe quando você ler essa carta, me mande respostas, a última você não me respondeu. Foi bom ter ido ficar com você alguns dias para conversarmos pessoalmente, mesmo que poucas vezes. Não fique com raiva de mim... eu sofro com toda essa situação, só quero poder ajudar, te fazer refletir e não me perdoaria se eu não te dissesse nada. Saiba que te amo.

quinta-feira, dezembro 03, 2015

Campo Geral (da obra Manuelzão e Miguilim), de Guimarães Rosa - MIGUILIM INACABADO


Análise da obra

Narrativa profundamente lírica, pertencente à obra Manuelzão e MiguilimCampo Geral traduz a habilidade de Guimarães Rosa para recriar o mundo captado pela perspectiva de uma criança. Se a infância aparece com freqüência nos textos roseanos, sempre ligada à magia de um mundo em que a sensibilidade, a emoção e o poder das palavras compõem um universo próximo ao dos poetas e dos loucos, em Miguilim, nome com que passou a ser conhecida a novela, essa temática encontra um de seus momentos mais brilhantes e comoventes.

É uma espécie de biografia de infância - que alguns críticos afirmam ter muito de autobiográfico -, centrada em Miguilim, um menino que morava com sua família no Mutum, um remoto lugarejo no sertão.

Foco narrativo

Narrado em terceira pessoa, narrador onisciente. Apesar de ser escrita em terceira pessoa, a história é filtrada unicamente pelo ponto de vista de Miguilim e, por essa razão, o mundo infantil é organizado a partir das vivências de um menino sensível, delicado, inteligente, empenhado em compreender as pessoas e as coisas. As outras personagens - a mãe, o pai, os irmãos, o tio, a avó e todos que vivem e passam pelo Mutum - aparecem misturadas às emoções e às reflexões do personagem central.

Tempo

Predomina o tempo psicológico, com o narrador captando o fluxo agitado dos pensamentos do menino Miguilim. Há um tempo que não passa, mas não há a preocupação de datá-lo com precisão como o faz, por exemplo, Eça de Queirós em A Cidade e as Serras. Mais importante que o tempo  é o espaço e as pessoas, com seus sentimentos e relações problemáticas.

Temática

Os temas fundamentais são a infância, o amor e a amizade, a violência e a fé. A criança é revelada como a criatura em que a hipocrisia e a maldade ainda não deitaram raízes profundas, embora algumas delas já possam apresentar no seu desenvolvimento essas características negativas. Exemplo disso pode ser visto em Patori e Liovaldo. O par Miguilim / Dito pode ser visto como duas faces de uma mesma moeda, opostos e complementares, pois Miguilim é o que precisa aprender para saber, enquanto Dito sabe de modo imediato sem saber como. Dito é sábio e Miguilim é o aprendiz. Nesse sentido, a morte de Dito pode ser vista como uma necessidade existencial para levar Miguilim a crescer, a tornar-se maduro, independente.

Personagens 

Miguilim, tem o cabelo preto como o do mãe, parece-se mais com ela. Dotado de grande sensibilidade, Miguilim demonstra ter alma de poeta. Parte de suas dificuldade revela-se mais tarde como causada por uma irritação visual.

Dito, ruivo, parecia mais com o pai, era o mais novo mas sabia ser responsável. Morreu de tétano.

Nhô Bero (Bernardo Caz), pai de Miguilim, homem rude que parece ter implicância com Miguilim, mas de quem gosta, embora não saiba expressar isso com facilidade.

Tio Terês, tio e amigo de Miguilim. Foi expulso de casa por Vó Izidra por causa da relação adúltera com Nhanina.

Tomezinho (Tomé de Jesus Casseim Caz), ruivo como o pai, menino de quatro anos, tinha mania de esconder tudo o que encontrava.

Nhanina, mãe de Miguilim, era muito bonita, não gostava do Mutum, sentia muita tristeza em ter que viver ali. Não dava muita importância para a fidelidade conjugal pois traiu o marido com o próprio irmão e depois com Luisaltino.

Vovó Izidra, se zangava com todos, não gostava que batessem em Miguilim. Vestia-se sempre de preto.

Chica, irmã de Miguilim, tinha os cabelos pretos como a mãe.

Liovaldo, irmão mais velho de Miguilim, mas não morava com a família no Mutum.

Mãitina, empregada da casa, preta velha, gostava de cachaça e cultuava rituais pagãos africanos.

Drelina, apelido da irmã mais velha de Miguilim. Seu nome era Maria Adrelina Cessim Caz. Era bonita e tinha cabelos compridos.

Patori, menino mal, filho de Deográcias, desperta a antipatia de Miguilim.

Grivo, menino muito pobre que é defendido por Miguilim quando é agredido ou humilhado por Liovaldo.

Luisaltino, último empregado contratado por Nhô Bero e por ele assassinado por ciúme, pois se tornou amante de Nhanina.

Saluz, vaqueiro de Nhô Bero. Casado com Siarlinda que sabe contar histórias.

, empregado, que foge com a empregada Maria Pretinha.

Enredo de Campo Geral

Miguilim, garoto sensível da região de Minas Gerais, começamos a vê-lo aos oito anos, com uma menção aos seus sete anos, quando esteve mergulhado numa preocupação em respeito ao local de sua residência, o Mutum (essa palavra constitui um palíndromo, ou seja, pode tanto ser lida da direita para a esquerda com da esquerda para a direita, sem alterar-se. E o mais interessante é que sua grafia, MUTUM, acaba concretizando o próprio local, já que este ficava junto a um covão (U), entre morro e morro (M e M). Durante uma viagem para ser crismado, ouvira alguém falar que aquele era um lugar muito bonito. Tão feliz fica com a novidade que se torna ansioso em contá-la para a mãe, Nhãnina, crendo que assim faria com que ela deixasse de ser triste por morar ali.

Seu jeito estabanado, no entanto, faz com que corra desesperado em direção da mãe, passando direto pelo pai, Nhô Bero, irritando-o. É a primeira informação que o leitor recebe de que existe na narrativa uma transfiguração do complexo de Édipo, já que Miguilim tem uma forte identificação afetiva com a mãe e problemas graves de relacionamento com o pai, a ponto de, mais para frente, os dois se estranharem como se fossem inimigos.

Há também outras pessoas com quem o protagonista mantém relação. Podem ser citados os irmãos Chica, Drelina e Tomezinho, os dois últimos de gênio difícil, até maligno. A Rosa, que trabalha em sua casa e com quem tem uma tranqüila relação, muitas vezes acompanhando-o em seus sentimentos e fantasias. Vó Izidra, na realidade tia-avó por parte de mãe dele. Era uma mulher dotada de uma moral extremamente rígida, baseada num catolicismo um tanto tradicional, apegado a santos e rezas. É a religiosidade oficial, bem diferente de Mãitina, velhíssima remanescente da escravidão, já sem juízo e com fama de feiticeira. Seu misticismo é muito mais primitivo, pois que baseado em magia (compare essas duas idosas. Ambas estão vinculadas ao misticismo, à religiosidade. A ligação com o aspecto oculto de nossa existência está até simbolizada no cômodo em que cada uma fica: ambos são escuros e isolados. Além disso, gostam de Miguilim. A diferença é que Vó Izidra é mais enrustida. Há também diferenças na qualidade da religiosidade de cada uma. Mãitina é mais primitiva enquanto a outra segue um padrão mais oficial).

Mas duas personagens são as mais importantes no círculo de relacionamento de Miguilim. A primeira é o seu irmão Dito, que, apesar de mais novo, é mais sábio, na medida em que está mais preparado para o lado prático da vida. Torna-se a âncora do protagonista, já que este é extremamente aluado. Por isso é constantemente consultado pelo personagem principal.

A outra figura importante é o Tio Terêz (dentro da elaboração poética de sua prosa, Guimarães estabelece uma ortografia própria, muitas vezes afastando-se do padrão gramatical. É o caso do “Terêz”, já que oxítonas terminadas em “z” não devem ser acentuadas). Irmão de Béro, é o amigo grande de Miguilim (há quem extrapole na interpretação e enxergue na relação entre Miguilim e Terêz, tendo também em vista o caso entre este e Nina, além dos conflitos entre o protagonista e seu pai, a possibilidade de que o menino seria filho não de Béro, mas de Terêz. Mas é um aspecto que de forma alguma deve ser colocado em uma prova, pois que baseado em suspeitas muito leves). E sabemos, pelo olhar lacunoso de uma criança, que mantém uma relação no mínimo perigosa com Nina. Intuímos isso pela briga que há entre pai e mãe em que esta quase apanha; só não sofreu porque Miguilim se interpôs no meio do casal, acabando por sofrer a fúria de Béro no lugar da mãe. Comenta-se a todo instante que o tio não ia poder mais aparecer no Mutum. Além disso, surge uma tempestade terrível, que é atribuída por Vó Izidra como castigo infligido às ações pecaminosas que andavam grassando.

O temporal se vai, Tio Terêz some e o Mutum mergulha numa tranqüilidade momentânea. É quando Miguilim põe na mente a idéia obsessiva de que iria morrer em dez dias. Passa a desenvolver um apego pela vida durante o decorrer desse período e principalmente após ele, ao descobrir que sobrevivera a ele.

Nhô Bero, pouco depois, faz com que Miguilim lhe leve o almoço. É uma maneira que entende de arranjar utilidade para o garoto, que realiza sua tarefa com orgulho. No entanto, em uma das viagens, é surpreendido por Tio Terêz, que lhe entrega uma carta para ser entregue à Nina e diz que estaria esperando resposta no dia seguinte. Começa então um dilema na mente do menino. Adora o tio e, portanto, deve fazer o que este lhe pediu. No entanto, mesmo não tendo consciência do que acontecia, intui que o que era pedido era errado. Depois de muito tempo de conflito interior, decide não entregar a missiva, confessando, entre choros, ao tio, que facilmente entende. É um grande passo no crescimento da personagem.

Introduzido por outra tempestade, chega mais um período de crise. É, como diz o narrador, o momento em que virou o tempo do ruim. Começa com o assassinato de Patori, garoto imbuído de malignidade e que maltratava muito Miguilim. Seguem-se outros fatos. O cachorro Julim foi mortalmente ferido por um tamanduá. Tomezinho sofre com a picada de um marimbondo. O touro Rio Negro machuca Miguilim, que acaba descontando a raiva em Dito. Luisaltino surge e começa a se engraçar com Nina (a mãe de Miguilim parece revelar um caráter no mínimo leviano, volúvel. Pode-se desconfiar de um certo determinismo, na medida em que sua personalidade seria um reflexo das atividades exercidas pela mãe dela, que fora prostituta). O ponto crítico ocorre quando Dito vai espiar o ninho de uma coruja. A ave acaba dizendo o nome dele, o que é visto por Miguilim como mau agouro (note que, para angústia de Miguilim, o papagaio não conseguia falar o nome de Dito, ao contrário da coruja. Drama temporário. No final, muito tempo depois, consegue-o).

Tudo é preparação de clima para o grande desastre. Durante a perseguição que as crianças fazem a um mico que havia escapado, Dito acaba tendo o pé cortado por um caco que estava no terreiro. O machucado piora, colocando o menino de cama. Coincidência ou não, é época dos festejos de Natal, Vó Izidra até se dedicando a montar seu famoso presépio.

Dito não resiste ao mal que lhe acometeu, vindo por falecer. É uma experiência extremamente dolorosa para Miguilim, mas que pode ser vista como um passo importante no seu amadurecimento. Se antes o protagonista era guiado pelo irmão, nos momentos de convalescença deste o jogo começa a se inverter. É Miguilim que conta ao acamado o que está ocorrendo no mundo ao redor deles. Passa a ser, pois, os olhos fraternos. Com a morte, a personagem principal passa um longo período curtindo a dor, o sofrimento, até que assume um movimento com que de introjeção do falecido, já que antes de tomar uma decisão sempre se pergunta o que seu irmão faria. Ao assumir a mesma atitude que presume ser de Dito, praticamente absorve-o em seu ser.

Tanto essa evolução é verdade que Miguilim agüenta firme o sufoco a que seu pai o submete, fazendo-o trabalhar no roçado, debaixo de um sol desumano. Mas o mais importante é lembrar da sua participação no conflito que houve entre Liovaldo e Grivo.

Grivo era um rapaz muito pobre, a ponto de os animais de criação, como galinhas, morarem na mesma casa dele. Certa vez aparecera no Mutum com dois patos para serem vendidos, parca fonte de sustento para si e para mãe. No entanto, Liovaldo, irmão de Miguilim que morava na cidade e que estava de visita, dominado por um espírito maléfico, começa a maltratar e até a machucar o pobre. Miguilim acha injusto e toma partido, batendo no agressor. Seu pai fica indignado pelo fato de o menino não respeitar o sangue familiar e, incoerentemente, dá uma surra nele que chega a espancamento. O protagonista, no entanto, não se sente mal, pelo contrário, tem raiva, pois sabe que está certo e que o pai está imensamente errado. Por isso pensa em vingança, imaginando até a morte do pai. É quando ri, em meio a surra, o que faz todos, até o agressor, pensarem que o menino endoidara, talvez até com os golpes.

O conflito instaura a conquista, por Miguilim, de espaço e até respeito no ambiente familiar. Após três dias que passa na casa de um vaqueiro, para protegê-lo da fúria do pai, retorna, mas não se mostra submisso. Como provocação, Béro quebra os brinquedos e gaiolas do filho. Este solta os passarinhos que tinha presos e quebra os brinquedos que sobraram. É um sinal de que havia crescido e que, portanto, não precisava mais daquelas diversões.

Delimitadas as fronteiras, Miguilim pouco depois cai doente e de forma tão grave que alterna momentos de inconsciência a de consciência (a doença e os mergulhos de desligamento que provoca podem ser entendidos como um momento de incubação, como se Miguilim, dentro de um casulo, estivesse em uma fase no final da qual se transformaria em outra pessoa). Nos instantes em que vem à tona percebe picotes de realidade, mas que nos faz entender vários acontecimentos. O primeiro é o desespero do pai, que se sente injustiçado pela providência divina, que parecia querer tomar mais um filho dele (Béro é, portanto, uma personagem complexa, pois, ao mesmo tempo em que maltrata seu filho, demonstra amor por ele. Sua agressividade pode ser fruto de uma vida de dificuldades financeiras, pois não é dono de suas próprias terras, cuidando do que era alheio. Nas entrelinhas fica o traçado de um caráter rico psicologicamente). Tenta ao máximo fazer suas vontades. Em vários outros despertares Miguilim toma conhecimento que Béro havia matado Luisaltino, provavelmente por causa de Nhãnina. Por ter caminhado pelas trilhas da criminalidade, acaba por se suicidar.

Quando começa a melhorar, o protagonista toma conhecimento de que Tio Terêz tinha voltado e ia passar a morar no Mutum. Era a união, finalmente, dele com Nina. Por causa disso, Vó Izidra parte de lá, indignada.

No final, a chegada de um certo Dr. José Lourenço traz uma revelação surpreendente. É essa figura nova que descobre que Miguilim era míope. Ao emprestar ao menino seus óculos, permite à criança uma descoberta. Seu velho mundinho acaba ganhando uma visão completamente nova, mais nítida. É a simbologia do crescimento, o que constitui um ritual de passagem. Enxergar mais nitidamente o mundo significa entrar para a fase adulta, sair da infância.

Na companhia de tão importante mudança, Miguilim parte para a cidade. Sua viagem, somada à simbologia dos óculos, pode significar a entrada em um novo universo. Miguilim pode tanto ter abandonado a visão primitiva, pré-lógica, que o caracterizara, como continuar, em meio ao universo adulto, preservando seu lado infantil. É, pois, um final aberto, a permitir mais de interpretação.


Fonte: http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/c/campo_geral

MIGUILIM INACABADO - PRÊMIO SESC DE TEATRO CANDANGO



A Semente Cia de Teatro da qual faço parte está concorrendo com o espetáculo "Miguilim Inacabado" a diversos prêmios pelo Sesc! O espetáculo está lindo, intenso e cheio de emoções! As indicações e premiações aconteceram dia 08/12
Clique AQUI para ver todas as fotos do Espetáculo. " Miguilim é a criança dentro de cada um de nós: ora cercada pela alegria da vida, ora desafiada pela presença da morte, mas sempre aberta para a beleza do mundo. O espetáculo Miguilim Inacabado é um convite para refletir sobre nossas origens, sobre a infância sagrada que alimenta nossos sonhos durante toda a vida." 

Ficha Técnica
Encenação e Direção:  Valdeci Moreira e Ricardo César
Dramaturgia: Valdeci Moreira e Sara Tavares
Elenco: Leo Thilé, Jura Camilo, Jussy Nascimento, Sara Tavares, João Camargo, Crys Lira,
 Thiago Bellargo, Murillo Medeiros e Matheus Trindade.
Cenário e Figurino: Ricardo César
Iluminação: Valdeci Moreira
Sonoplastia: O grupo
Cabelo e Maquiagem: o grupo
Texto: Baseado na obra Corpo de Baile - de Guimarães Rosa
Produção: Marli Trindade

Classificação:14 anos

A Cia Semente já havia participado do Prêmio Sesc de Teatro Candango em 2013 com o espetáculo poético maravilhoso "Infinto Vazio". O espetáculo foi indicado a sete categorias e premiado nas categoria de melhor direção e melhor iluminação. Clique AQUI para ver as fotografias do espetáculo.
Quando tudo transbordava verificamos que o cheio e o vazio se completavam... Assim nasceu o espetáculo poético musical “INFINITO VAZIO”. Vazio ainda, mas que pretende encher-se de emoções, junto com você, público, que, sem medo, estando no seu vazio ou na sua plenitude, terá coragem de compartilhar conosco deste momento e quem sabe sacudir seus sentimentos, correndo o risco de esvaziar-se ou encher-se um pouco mais.
Ficha técnica:
Concepção dramatúrgica e direção: Valdeci Moreira e Ricardo César

Elenco: Bruna Nayara, Emylle Lacerda, Flavia Reis, Jessica Ximenes, Jullya Graciela, Jussy Nascimento, Nathalia Jenniffer, Mateus Paulino e Vando Farias.
Cenário e figurino: Valdeci Moreira e Ricardo César
Iluminação: Valdeci Moreira e Ricardo César
Cabelo e Maquiagem: O Grupo
Textos incidentais: Caio Fernando Abreu e Sids Oliveira
Produção: Marli Trindrade (3556-0448 - 9817-8156 -- 8432-6112)
Classificação: 14 anos

Carta para Tereza - I


Oi, bom dia!

Muitas vezes eu fico pensando em como seria legal se a gente conversasse de verdade sabe?
Há muito tempo a nossa amizade já não pode ser chamada de amizade. Hoje eu estava me lembrando que havia te enviado um áudio muito bonito, falando sobre nossas vidas, sobre como a sua felicidade era importante para mim e como era mais fácil me comunicar contigo assim, até porque você sabe que não é fácil conversar com você. Você não gosta de ouvir conselhos ou que se metam em sua vida...

Sei que esse áudio você não ouviu. Você me disse que não iria ouvir.

Mesmo que você não tenha ouvido, vou te dizer o que tinha nele, espero que você leia essa carta um dia...

Eu tinha pedido para você se cuidar, se amar. Você estava mal, eu conversei com sua família há meses atrás, falei a eles que você não estava bem, que estava com depressão. Todos me disseram que sabiam que você não estava bem, mas isso de depressão ninguém ligou e me acharam louca, dramática e pessimista, disseram que não tinham ideia do que fazer. Quando fui te visitar algumas vezes, vi que você passava muito tempo em casa, sozinha, muitas vezes trancada no quarto, sem sair para lugar algum, a não ser para abrir o portão para mim... Você sempre estava com a mesma roupa que dormiu  e com ela passava o dia inteiro, não importava o horário que fosse te ver, você estava sempre, triste, desanimada da vida e sem expectativa, desgranhada e com a roupa de dormir. 

Eu havia te dito que não estava certo, que você não estava bem, mas você não gosta de ouvir conselhos,  Então eu pedi pra você lutar pelos seus sonhos, pedi pra você tomar coragem e enfrentar o mundo. Você sempre foi tão inteligente, sempre fez tudo tão bem, claro, quando queria. Sempre conseguiu fazer as coisas melhor do que eu lembra? Você sempre teve tantos sonhos, mas sempre teve medo de lutar por eles. Então eu pedi pra você lutar! LUTE! COMO VOCÊ VAI SABER QUE NÃO CONSEGUE, SE VOCÊ NÃO TENTAR?! LUTE! 

Pedi para você procurar algo que gostava de fazer e seguir fazendo. Pedi para você ir morar com suas tias, primas e mudar de vida totalmente. Pedi pra você sair desse lugar, dessa cidade, dessa casa e respirar novos ares. Eu sei que a sua vontade estava doente mas eu não sabia o que fazer a não ser pedir...

Sabe, eu não te abandonei... Te disse isso no áudio que não ouviu, a gente nunca se deu 100% por causa das nossas personalidades, mas eu não te abandonei. O que eu fiz foi deixar você andar sozinha. Pensei assim: "Ela precisa conquistar seus sonhos, seu mundo, saber o que quer e ir atrás, lutar pelo o que acredita." Lembro que todos os cursos que você fez, nós fizemos... Eu sempre estava te chamando pra vir fazer cursos comigo, mas chegou uma hora que você não aceitava mais nenhum convite meu, então pensei que você deveria procurar o que gosta e eu deveria parar de te carregar para os meus planos... Porém não foi isso que aconteceu, você parou e ficou lá, lá onde eu te deixei pra caminhar...

Além de tudo isso, você tinha entrado em um relacionamento que te deixava acomodada. Você começou a não sair de casa porque praticamente tudo o que você precisava fazer na rua, seu namorado fazia para você. Você pedia pra ele ir a muitos lugares por você e isso foi te deixando em casa aos poucos. Ele te perseguia e você e você achava normal, um cuidado... eu pedi para você cuidar de você, se amar e se valorizar primeiro e deixar esse relacionamento para viver, te disse: " Ciúmes não é amor. Perseguição não é persistência. Controle não é cuidado. Obsessão não é paixão." Disse isso, mesmo sabendo que você nunca concordaria e que ficaria com raiva de mim porque ele estava lá e eu não, mas não te via feliz e sim se iludindo, tentando encontrar uma razão para continuar nesse relacionamento, um meio de se sentir feliz com ele, mas isso estava te fazendo mal. Você não via, não sabia, não sentia, adormecia... Porém eu via tudo isso e tinha que te dizer a verdade, mesmo sabendo que me julgaria dizendo ser apenas a minha verdade. Te digo: "Muitos que você conhece também achavam o mesmo, mas somente eu tive coragem de te dizer!".

Venho sempre escrevendo cartas para você, aos poucos vou te enviando, se algum dia você ler alguma delas, saiba que eu te amo.